A combinação da sexta-feira com o número 13, para muitos, representa um dia de má sorte, infortúnios e acontecimentos inexplicáveis. Ainda que para uma parcela da população a data passe despercebida, para os supersticiosos, ela é sinônimo de alerta. Evitar viagens, assinar contratos, passar por baixo de escadas ou cruzar com gatos pretos são apenas algumas das atitudes tomadas por quem acredita nas “energias negativas” da sexta-feira 13. Mas afinal, o que dizem as crenças populares e o que ensina a Igreja sobre esse dia?
Superstições que atravessam gerações
A origem do temor remonta a antigas tradições. O número 13, por si só, já é considerado de má sorte em diversas culturas ocidentais. Soma-se a ele a sexta-feira, dia da semana em que, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo foi crucificado. Essa combinação teria dado origem ao mito da “sexta-feira 13 maldita”.
A numeróloga Fabiana Sanches explica que a simbologia do número 13 é cercada de dualidades. “O número 12 representa a completude – como os 12 meses do ano, 12 apóstolos, 12 signos do zodíaco. O 13 seria um número que rompe essa ordem, simbolizando algo fora do controle, do inesperado, e por isso ganhou essa fama negativa”, pontua.
Para a aposentada Maria do Carmo, de 67 anos, a data é levada a sério. “Eu não saio de casa nesses dias. Já tive experiências ruins que aconteceram em sextas-feiras 13. Não custa se cuidar”, relata.
A visão da Igreja: fé e não medo
Na contramão das crenças populares, a Igreja Católica prega que não há motivo para temer a data. O padre Luiz Fernando dos Santos, da Diocese de Presidente Prudente, afirma que alimentar o medo em torno do dia pode distanciar as pessoas da fé verdadeira.
“A superstição não combina com a vida cristã. A sexta-feira é um dia de especial significado para nós, pois recorda a Paixão de Cristo. O número 13, inclusive, é relacionado à Virgem Maria, cuja aparição em Fátima se deu em um dia 13. Então, para o cristão, não há azar, há confiança na providência divina”, destaca o religioso.
Além disso, o padre alerta sobre os perigos de dar poder excessivo a símbolos e crendices. “O medo dá espaço para o obscurantismo. Nosso foco deve ser a luz da fé, que dissipa todas as trevas, inclusive as da ignorância.”
Na cultura pop e no imaginário coletivo
A sexta-feira 13 também ganhou força por sua popularização na mídia e no cinema. A franquia de filmes de terror com o mesmo nome, iniciada nos anos 1980, ajudou a enraizar ainda mais o temor ao dia, associando-o a histórias de horror, assassinatos e maldições.
No entanto, muitos jovens e curiosos aproveitam a data para realizar “festas do medo” ou maratonas de filmes de terror, encarando o dia com diversão e desmistificação.
Psicologia: medo construído socialmente
A psicóloga Camila Vieira explica que o medo da sexta-feira 13 é, muitas vezes, alimentado pelo que se aprende desde cedo. “Quando uma criança ouve constantemente que esse dia traz azar, ela internaliza essa ideia. Mesmo que racionalmente a pessoa saiba que não há fundamento lógico, o inconsciente pode agir, provocando ansiedade ou mudanças de comportamento nesse dia”, diz.
Ela complementa que, para muitas pessoas, o medo vira uma espécie de amuleto. “É como se elas se sentissem protegidas ao evitarem certas ações. É uma forma de controlar o que é, no fundo, imprevisível”, analisa.
Superstição ou tradição inofensiva?
Apesar de causar medo em alguns e diversão em outros, a sexta-feira 13 continua sendo uma data envolta em mistério, que mistura tradição, crença, cultura e religião. Enquanto muitos ainda seguem evitando certas ações nesse dia, a orientação de especialistas e religiosos é clara: não há motivo real para temer.
Como toda superstição, ela fala mais sobre as pessoas do que sobre a realidade. E cabe a cada um decidir como deseja encarar essa simbólica sexta-feira 13 — com temor, com respeito às tradições, ou com um olhar mais racional e confiante.