Nesta sexta-feira, (25), a cidade de Presidente Prudente dá um importante passo no combate às arboviroses com a inauguração da Biofábrica do Método Wolbachia, resultado da parceria entre o World Mosquito Program (WMP), a Prefeitura Municipal, o Governo do Estado de São Paulo e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da Saúde. A data também marca o início das liberações dos chamados “Wolbitos” — mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia — no município.
A tecnologia utilizada consiste na introdução da bactéria Wolbachia nos mosquitos Aedes aegypti. Naturalmente presente em cerca de 60% das espécies de insetos, como borboletas e libélulas, a Wolbachia impede que o mosquito transmita doenças como dengue, Zika e chikungunya. Importante destacar que essa bactéria não causa danos à saúde humana nem ao meio ambiente.
Ao serem soltos na natureza, os mosquitos com Wolbachia se reproduzem com os Aedes aegypti locais. Com o tempo, a maior parte da população desses insetos passa a carregar a bactéria, tornando-se incapaz de transmitir os vírus. A Wolbachia se perpetua nas novas gerações de mosquitos, resultando na redução contínua da transmissão das arboviroses.
Estrutura da Biofábrica
Localizada no bairro Jardim Everest, a biofábrica conta com aproximadamente 400 m² e está equipada com salas de triagem, larvas, tubos, lavagem, estoque e refeitório. Nesse espaço, profissionais capacitados realizarão as etapas finais do método, incluindo a eclosão dos ovos dos mosquitos com Wolbachia e a preparação para a soltura em campo.
Segundo Ana Carolina Rabelo, gestora de projetos do Método Wolbachia, as liberações dos mosquitos serão realizadas em parceria com o governo estadual e a administração municipal. “As liberações devem durar cerca de 28 semanas, e os resultados do método costumam aparecer entre 1 e 2 anos após o fim das solturas. É fundamental que a população compreenda que essa é uma tecnologia complementar. Os cuidados tradicionais continuam sendo necessários”, reforça Rabelo.
Cobertura em 83 bairros
As ações contemplarão 83 bairros de Presidente Prudente, entre eles Ana Jacinta, Cecap, Jardim Bela Dária, Parque Furquim, Vila Maristela e Jardim Itatiaia. A iniciativa integra uma expansão nacional do WMP em 2024, que inclui também as cidades de Uberlândia (MG), Natal (RN), Foz do Iguaçu (PR), Londrina (PR) e Joinville (SC).
A Secretária Municipal de Saúde, Adriana Vitório, destacou o impacto positivo esperado: “A implantação da biofábrica em Prudente representa um avanço significativo. A tecnologia reduz a capacidade de transmissão dos vírus, aliviando a pressão sobre o sistema de saúde e melhorando a qualidade de vida da população. Mesmo com a nova estratégia, continuaremos com visitas porta a porta, eliminação de criadouros e mobilizações sociais.”
Escolha estratégica
A escolha de Presidente Prudente para receber a biofábrica foi feita pelo Ministério da Saúde com base em critérios técnicos como população superior a 100 mil habitantes, alta incidência de arboviroses nos últimos dez anos, clima favorável e presença de aeroporto.
A diretora do Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) de Presidente Prudente, Ana Paula Lagisck, reforçou o apoio estadual: “O GVE apoia a implantação da Wolbachia na região, como parte do compromisso do Estado com a saúde pública. Essa parceria entre Estado e municípios fortalece o enfrentamento às arboviroses.”
Engajamento comunitário
Antes das liberações, o WMP promoveu mais de 170 atividades de engajamento comunitário em Presidente Prudente, alcançando mais de 61 mil pessoas. O objetivo foi garantir o diálogo com a população e esclarecer dúvidas sobre a segurança e a eficácia do método.
Histórico e eficácia
O Método Wolbachia foi desenvolvido por cientistas da Monash University (Austrália) e pelo pesquisador da Fiocruz, Luciano Moreira. A tecnologia já foi introduzida em 14 países, com resultados expressivos. No Brasil, as primeiras liberações aconteceram em 2014, no Rio de Janeiro, e, desde então, já beneficiaram mais de 3,2 milhões de pessoas em cidades como Niterói, Belo Horizonte, Campo Grande e Petrolina.
Estudos demonstram a eficácia do método: em Yogyakarta, na Indonésia, um ensaio clínico controlado apontou uma redução de 77% na incidência de dengue em áreas tratadas com mosquitos Wolbachia. No Brasil, Niterói registrou reduções de 70% nos casos de dengue, 56% em chikungunya e 37% em Zika. No Rio de Janeiro, a redução da dengue variou entre 10% e 76%, a depender da taxa de estabelecimento da bactéria.
Importante esclarecimento
Os mosquitos com Wolbachia não são geneticamente modificados, e o método não deve ser confundido com outras tecnologias. O uso da expressão “mosquito do bem” é indevido, pois se refere a uma marca registrada de outra técnica.
Serviço
Evento: Inauguração da Biofábrica do Método Wolbachia em Presidente Prudente e início das liberações dos Wolbitos
Data: Sexta-feira, 25 de julho
Horário: 10h
Local: Rua dos Voluntários, s/n – Bairro Jardim Everest (em frente ao nº 102)