Há uma queixa crônica, um lamento que se arrasta pelas esquinas e telas, mais persistente que garoa em dia útil: “A culpa é dos políticos! A culpa é da corrupção!” É um coro ensaiado, uma cantiga fácil que nos isenta da tarefa mais árdua: olhar para o espelho.
No fundo, soamos como crianças birrentas. Culpamos a vida, o destino, a injustiça cósmica, enquanto evitamos o nó de nossos próprios cadarços. Não aprendemos a amarrá-los e, no entanto, ousamos culpar o caminho pelas nossas quedas. A verdade é brutal: quem colocou os políticos fomos nós mesmos. A escolha, por mais que doa, saiu das urnas que manuseamos, ou da omissão que permitimos.
Perdemos a capacidade visceral de ter vergonha. E a de nos indignarmos é insuficiente; é um fogo de palha que queima rápido no feed e se apaga na hora do almoço. A indignação que não se transforma em ação, em fundamento, é apenas ruído, um eco vazio que serve para justificar a inércia. Esperamos a sorte, essa dama volúvel, sem notar que ela só visita o destemido, aquele que se levantou mais cedo para lavrar o campo.
E o dinheiro? Não é a causa da riqueza de uma nação, é apenas o resultado dela. A verdadeira riqueza reside nos valores, na confiança e na ética que sustentam os tijolos de uma sociedade.
Estamos viciados no assistencialismo e apaixonados pelo populismo. Somos a plateia que aplaude o paliativo, a esmola jogada para aliviar o sintoma, jamais a cura. Uma sociedade próspera não se pergunta, em tom de espanto, “O que está acontecendo?” Ela se move e diz, com a força do trabalho e da moral: “Nós faremos acontecer.”
O problema é que as sementes plantadas são más. Não semeamos a coragem do empreendimento nem a integridade do voto. Não arrancamos as pragas do conformismo e da tolerância com o errado. O que colhemos é a apatia, a descrença e, pior, a nossa inaceitável leniência com o político condenado, com o corrupto confesso que volta ao palco sob aplausos.
Nossa bússola moral e nossa ética jazem no leito da agonia.
É hora de parar de apontar para o Congresso e acender a luz dentro da própria casa. É necessário encarar o espelho quebrado e fazer as três perguntas que definem a maturidade de um cidadão:
Eu fui fiel aos meus princípios?
Eu desperdicei alguma oportunidade de agir ou aprender?
Eu me tornei uma pessoa melhor de ontem para hoje?
Se a resposta for “não” para alguma delas, a queixa se esvai, e a responsabilidade pesa.
Na realidade, a sociedade não atrai o que ela quer; ela atrai o que ela é. Estamos defendendo princípios errados, e o resultado é uma colheita de miséria moral. Nenhuma nação se sustentará na prosperidade sem erguer seus alicerces sobre valores e princípios nobres. O fundamento de uma sociedade forte não está na lei, mas no caráter de cada indivíduo que a compõe. E é esse caráter que estamos deixando de cultivar.
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Persio Isaac
Presidente do Tênis Clube de Presidente Prudente entre 2003 e 2009;
presidente do Esporte Clube Corinthians de Presidente Prudente;
diretor do DEPAR da CIESP/FIESP;
presidente do Conselho Deliberativo do Sesi/Senai;
comentarista do programa de rádio No Radar, da 99.9 FM (Rádio Educativa); e
diretor comercial do Tênis Clube.


