A cena política brasileira vive um daqueles momentos em que as máscaras caem e o público tem a chance de enxergar, ainda que por alguns instantes, a engrenagem real que move Brasília. O caso de Davi Alcolumbre é um exemplo didático. Presidente do Senado, ele não está ali para ser dono da pauta, muito menos escudo de qualquer poder ou figura. Sua função é garantir que temas sejam debatidos democraticamente, como manda a Constituição. Mas, na prática, vimos um recuo calculado: de uma postura de resistência total, passou a falar em diálogo logo após a ameaça velada de sanções internacionais, como as previstas na Lei Magnitsky dos Estados Unidos. O medo da repercussão externa falou mais alto que a firmeza de convicção.
No Judiciário, a situação também não inspira confiança. A exigência de que Jair Bolsonaro comunique ao STF, com 24 horas de antecedência, uma internação emergencial é mais um capítulo surreal da relação política-judicial brasileira. É a tentativa de transformar o imprevisível em agenda burocrática, numa demonstração de poder que, no mínimo, desafia o senso comum.
Enquanto isso, no campo conservador, a guerra não é apenas contra adversários ideológicos, mas também dentro de casa. Eduardo Bolsonaro vem cobrando coerência de aliados, expondo aqueles que usam a imagem do pai como moeda eleitoral, mas se escondem na hora de assumir posição. O governador Tarcísio de Freitas, por exemplo, viu crescer a pressão após se ausentar de manifestações e manter, em estruturas ligadas ao governo paulista, nomes que criticam abertamente o bolsonarismo — como na TV Cultura, que vive sob a tutela do Estado.
O ponto central é que, para além das narrativas bonitas sobre “governabilidade” e “democracia”, o que realmente move o jogo político é a conveniência. Trocas de postura, alianças improváveis e pragmatismos de ocasião são a regra, não a exceção. O cidadão comum, de fora, assiste a esse tabuleiro em que o interesse público aparece apenas como figurante.
Nesse Brasil de disputas incessantes e discursos reciclados, sobra a sensação de que, quando a política mostra sua face verdadeira, ela não é nada bonita — mas, ao menos, deixa claro quem está jogando para o povo e quem apenas joga para si mesmo.