Era 13 de setembro de 1917. Depois de atravessar extensa mata virgem, o grupo liderado pelo Coronel Francisco de Paula Goulart, herdeiro das terras da região, chegou à Fazenda Pirapó-Santo Anastácio. Aos trabalhadores sertanejos que o acompanhavam, Goulart determinou a construção de um rancho para alojamento dos homens, dando início a uma história que transformaria o oeste paulista.
Nas proximidades, o fundador da futura cidade conheceu o engenheiro João Carlos Fairbanks, responsável pela construção da ferrovia. Ali, seria erguida a nova Estação da Estrada de Ferro Sorocabana, que receberia o nome do primeiro presidente civil do Brasil, Prudente José de Morais Barros, situada a apenas 10 metros da estaca número 1.807 da ferrovia, conforme registrou o Prof. Dr. Dióres Santos Abreu em seu livro Formação histórica de uma cidade pioneira paulista: Presidente Prudente.
Goulart solicitou ao engenheiro o projeto de um núcleo urbano em frente à estação, traçando limites entre a fazenda e o futuro povoado. Esse traçado inicial corresponde hoje à Avenida Washington Luiz. No dia seguinte, 14 de setembro de 1917, os homens começaram a derrubar a mata para abrir uma roça de milho. Nascia, assim, a Vila Goulart, embrião da cidade que se tornaria Presidente Prudente.

Os primeiros anos da capital do Oeste Paulista
Nos primeiros anos, o crescimento do povoado não seguia regras rigorosas de urbanização. Lotes foram vendidos e novas necessidades surgiram. O próprio Coronel Goulart construiu um alambique para fornecer cachaça aos moradores, empreendimento que, anos depois, se tornaria referência local. A iniciativa de vender as terras e criar um núcleo urbano contou com forte incentivo de sua esposa, Izabel Dias Goulart, carinhosamente conhecida como Dona Bella, hoje homenageada com uma rua no centro da cidade. Dona Bella mudou-se para a vila para mostrar aos futuros moradores a possibilidade de uma vida nova e se tornou conselheira política e parceira nos negócios do marido.
Com a inauguração da estação em 1919, o fluxo de pessoas aumentou. Entre os novos colonizadores estava o Coronel José Soares Marcondes, que se tornou rival, mas em determinados momentos aliado de Goulart, vendendo e povoando as terras do outro lado da estação, a Fazenda Mont’Alvão. Assim surgiu a Vila Marcondes, enquanto a Vila Goulart prosperava.
O Recenseamento de 1920 indicou 846 moradores, incluindo 251 crianças entre 5 e 12 anos. A população sentiu a necessidade de unificar as vilas para pleitear melhorias junto ao governo estadual, já que impostos eram cobrados em duplicidade por municípios vizinhos, como Conceição de Monte Alegre e Campos Novos do Paranapanema.

Nomes antes de Presidente Prudente
Nos primeiros anos, a cidade recebeu nomes provisórios: Alto Tamanduá, Patrimônio do Veado e Patrimônio da Anta, este último inspirado na abundância de antas na região. O nome definitivo, Presidente Prudente, em homenagem ao ex-presidente da República, foi oficializado em 1921. Em 14 de outubro, o então governador Washington Luís visitou o núcleo urbano e, em 28 de setembro, sancionou a Lei nº 1.798, criando o município.
No ano seguinte, a Lei nº 1.887 instituiu a Comarca de Presidente Prudente, com publicação no Diário Oficial em 14 de dezembro de 1922. Na mesma data, ocorreu a primeira eleição para vereadores. O processo eleitoral foi conturbado, marcado por disputas entre goulartistas e marcondistas, os dois grupos políticos dominantes da época. Durante parte de 1923, a cidade chegou a ter duas Câmaras Municipais, decisão que foi resolvida pelo Tribunal de Justiça em 20 de agosto.
Instalação da primeira Câmara
A instalação da primeira Câmara Municipal ocorreu em 27 de agosto de 1923, com Pedro de Mello Machado, Francisco de Paula Goulart, Luiz Ramos e Silva, Antônio Queiróz Sobrinho, Emílio Mori e Ulysses Ramos de Castro. Goulart foi eleito o primeiro presidente da Casa, enquanto Pedro de Mello Machado assumiu como prefeito. O coronel ainda voltaria a ocupar o cargo de chefe do Executivo em duas ocasiões: de janeiro a agosto de 1924 e de fevereiro a dezembro de 1925, em uma época em que prefeitos e vices eram nomeados pelo presidente do Estado.

Inaugurada a primeira rádio na cidade
No ano de 1938, dois amigos, Manoel Bussacos, e o gerente do Banco Sul América do Brasil, Raul Ignácio Pires, sentiam que a cidade já tinha porte suficiente para ter sua própria emissora de rádio. Resolveram formar uma sociedade, em que Bussacos entraria com a maior parte dos recursos, e Pires levantaria o restante no banco em que trabalhava. Nascia a Rádio Difusora PRI-5, “A Voz do Sertão”, a mais antiga da cidade. Logo no início, o horário de funcionamento era de 8h às 14 h e das 16 h às 20 h.

A emissora teve participação ativa em todos os movimentos da cidade, sendo a responsável pela formação de grandes profissionais tanto de nossa cidade como da região. Nomes de peso passaram por seus microfones, podendo citar Carlos Alberto de Arruda Campos, Albino Tófano, Alceu Árias, Flávio Araújo, Joaquim Nascimento, José Fresneda (José de Alencar), Ivan Benedito da Silva, Dininho, Nenê Rodrigues, Geraldo Soller, Alberto Luziardi e a dupla Nhô Nico e Celestino, considerada a maior dupla sertaneja da região. nasce a primeira estação de rádio, a PRI-5 Difusora – A Voz do Sertão. nos anos 40
Tragédia ferroviária assusta Prudente
No dia 3 de janeiro de 1963, um acidente de grandes proporções marcou a história de Presidente Prudente. Um trem misto, que circulava pela região, acabou adentrando o desvio de descarga da Esso Brasileira de Petróleo, localizado na Granja Odete, Estrada Montealvão, km 3 — local onde, à época, o relato do autor desta matéria era parte do dia a dia de trabalho.
O impacto foi devastador, os maquinistas perderam a vida, em um episódio que poderia ter sido muito mais catastrófico. Por sorte, os vagões-tanque já haviam sido descarregados, evitando uma explosão que poderia ter destruído toda a área, incluindo os tanques de armazenamento próximos. Apesar disso, o incêndio consumiu toda a composição do trem, deixando uma cena de destruição e alerta para os riscos do transporte de combustíveis.

Especialistas da época destacaram que, se os vagões tivessem ainda contido combustível, o acidente poderia ter se transformado em uma tragédia de proporções inimagináveis, dado o armazenamento próximo de grandes volumes de combustível.
A imagem a cima mostra a dimensão do desastre, com registro do trem destruído e do incêndio que se alastrou rapidamente, eternizando o episódio na memória da cidade.
Cresceu, cresceu demais então, menina
Ao longo de seus 108 anos, Presidente Prudente cresceu impulsionada pela Marcha do Café, depois pela transição para o algodão – tornando-se referência nacional na cultura –, e posteriormente pela pecuária.
Cabe lembrar que Presidente Prudente, graças a sua privilegiada localização geográfica, tornou-se ponto de passagem para aqueles que se dirigiam para o Paraná e Mato Grosso e ponto de chegada para aqueles que se dirigiam para o Oeste Paulista, conferindo-lhe o direito de ser centro fornecedor e receptor de mercadorias, produtos e serviços.

Infraestrutura e zeladoria
Com 550 bairros e 4.177 logradouros, a cidade mantém suas ruas e avenidas com manutenção constante. Recentemente, Prudente recebeu R$ 3,5 milhões em emendas parlamentares para recapeamento asfáltico, garantindo ruas em melhores condições para os moradores.
A limpeza pública também voltou a ser prioridade da gestão. Novos equipamentos, máquinas roçadeiras e valorização do trabalhador garantem a conservação dos bairros, praças e parques. O destaque é o Parque do Povo, cartão-postal da cidade, que recebe atenção especial para manutenção de sua extensa área verde.
Na Saúde, Prudente ganha Selo esmeralda
Prudente conquistou o selo esmeralda do programa ‘Cidade Abraçar’, reconhecimento pelo cuidado com doenças respiratórias. Na saúde da mulher, a administração municipal anunciou a realização de 4.350 exames preventivos ao câncer de mama. Além disso, uma das metas da gestão é reduzir o tempo de espera nas unidades de saúde.
O combate à dengue ganhou reforço tecnológico: Prudente foi a primeira cidade do Estado a receber uma biofábrica do método Wolbachia, que ajuda a controlar a população do mosquito transmissor da doença.
Cultura com grandes projetos
A cidade investe na preservação da história e na promoção de cultura para a população. O Centro Cultural Matarazzo está sendo restaurado, enquanto projetos como o “Centrô” aos sábados, feiras de artesanato, Revelando SP, festejos juninos, carnaval e a programação de shows e atrações durante o ano garantem opções culturais para todos.

Habitação e Mobilidade Urbana avança na cidade
Em habitação, Prudente conquistou 740 novas moradias pelo Programa Minha Casa Minha Vida. Serão 340 unidades na Vila Aurélio e mais 400 apartamentos distribuídos nos residenciais Itamarati, Girassóis e Terceiro Milênio. O prefeito já assinou o projeto e o edital de licitação para contratação da empresa responsável pelas obras.
Na mobilidade urbana, a cidade será beneficiada com R$ 25 milhões do Novo PAC, destinados à construção de pontos de integração e ciclovias.
Desenvolvimento econômico e inovação
Prudente se prepara para implantar uma tecnologia pioneira de gás biometano, tornando-se a primeira cidade do país a oferecer o serviço a empresas locais ainda neste ano. Além disso, será criado o primeiro Distrito Empresarial às margens da Avenida Nair Sylla Garcia, estimulando novos investimentos.
Programa Cidadeescola premiado na educação
O Programa Cidadescola, iniciado pelo prefeito Tupã em 2010, completa 15 anos com reconhecimento nacional. O ensino integral atende milhares de alunos, com oficinas de inglês para 2.400 estudantes, além de atividades em esportes, cultura e meio ambiente. Recentemente, a cidade alcançou índice 6,6 no IDEB, acima da média estadual e nacional.

108 anos de história
O crescimento de Prudente começou na região central, onde estão os bairros mais antigos. A primeira demarcação de ruas aconteceu na Avenida Washington Luís, preservando até hoje paralelepípedos e um antigo bebedouro de animais, patrimônio histórico. O bairro Ana Jacinta é o mais populoso, enquanto o Conjunto Habitacional João Domingos Netto é o maior da cidade.
Ao longo de 108 anos, Prudente percorreu muitos caminhos, conquistou avanços significativos e ainda vislumbra novos projetos. Entre saúde, educação, infraestrutura e desenvolvimento econômico, a cidade segue firme no compromisso de cuidar de sua população e transformar sonhos em realidade. Ao longo de mais de um século, Prudente se transformou, mas mantém o compromisso de cuidar de seus mais de 240 mil habitantes.