As exportações da Região Administrativa de Presidente Prudente para os Estados Unidos alcançaram US$ 118,5 milhões em 2024, reforçando a posição do Oeste Paulista como um dos principais polos agroindustriais nas relações comerciais com o mercado norte-americano.
Segundo levantamento realizado com base em dados da Fundação Seade e da plataforma ComexStat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os produtos da região exportados para os EUA tiveram forte participação de commodities agrícolas, matérias-primas processadas e itens industrializados de alto valor agregado.
Carne bovina lidera as exportações
O carro-chefe das exportações regionais continua sendo a carne bovina (congelada e refrigerada), que respondeu por aproximadamente US$ 58,6 milhões do total exportado. O produto abastece grandes redes varejistas e frigoríficos dos Estados Unidos, mantendo uma posição consolidada na balança comercial local.
Outro destaque é o açúcar bruto de cana, com US$ 9,37 milhões exportados ao longo do ano. A produção, concentrada em grandes usinas do interior paulista, mantém forte presença nas exportações, com destino à indústria alimentícia norte-americana.
Exportações de couro ganham espaço
As exportações de couros curtidos e preparados (sem pelo) somaram US$ 7,59 milhões, enquanto os couros acabados e manufaturados, voltados à produção de artigos de moda, calçados e estofados, renderam US$ 6,27 milhões. Os produtos têm como destino principal a indústria automotiva e de calçados dos Estados Unidos.
Sementes e insumos agrícolas apontam tendência de crescimento
Outro segmento que apresentou crescimento foi o de sementes e grãos para plantio, que movimentou US$ 6,23 milhões em exportações. Com foco no agronegócio de precisão, os produtos têm se destacado pela qualidade genética e pela aplicação em lavouras norte-americanas.
Produtos industrializados ampliam a pauta exportadora
Além dos produtos do agronegócio, a região também exportou uma quantidade significativa de produtos industrializados, como matérias à base de amidos modificados, colas, enzimas e preparados alimentícios, que, juntos, superaram US$ 70 milhões em exportações. Também se destacaram as vendas de máquinas e aparelhos elétricos, com US$ 21,5 milhões, reforçando a diversificação da pauta comercial da região.
Entretanto, apesar dos resultados positivos, a continuidade dessa relação comercial está ameaçada.
Novas tarifas podem inviabilizar parte das exportações
A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) divulgou um alerta sobre o impacto do recente anúncio dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% sobre determinados produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto de 2025.
“O recente anúncio de tarifas de 50% para o Brasil tem o potencial de inviabilizar parte expressiva das exportações brasileiras para os EUA. A Amcham defende esforço diplomático para uma solução negociada no curto prazo”, afirma trecho do relatório da entidade.
A medida, que faz parte de um pacote protecionista norte-americano, deve atingir principalmente produtos com menor margem de lucro ou alto custo logístico — como carnes, couros e insumos agroindustriais — justamente as principais categorias exportadas pela região de Presidente Prudente.
Empresários da região temem o impacto
Com mais de 15 anos de atuação no setor, uma fábrica de fivelas da região vinha ampliando sua presença no mercado internacional, especialmente nos Estados Unidos — um dos principais destinos das exportações. No entanto, o cenário agora é de incerteza.
Rogério Alexandre, diretor da empresa, expressou sua preocupação com o momento atual:
“A ideia é que tudo pare, até porque este é um momento de apreensão para todos nós. Estávamos conquistando o mercado nos Estados Unidos, exportando cada vez mais… mas agora tudo deve parar.”
A apreensão também atinge outros setores da economia local. Gilson Otávio, diretor de exportações de um frigorífico da região, relata que já houve impacto direto:
“Fomos notificados de que os compradores nos Estados Unidos darão uma pausa nas negociações para entender melhor o novo cenário do mercado, especialmente após as altas nas tarifas.”
Com a possibilidade de suspensão temporária de contratos e queda nas exportações, empresários da região temem efeitos em cadeia, com redução na produção, impactos sobre o emprego e instabilidade no planejamento financeiro das empresas.
Ciesp acredita em impacto regional com medida
O conselheiro do Ciesp(Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), na região de Presidente Prudente, Wadir Olivette de Oliveira, demonstra forte preocupação com os impactos de uma possível paralisação ou entrave nas exportações brasileiras, especialmente no Oeste Paulista.
Segundo ele, os prejuízos podem ser severos em setores estratégicos como a pecuária, os frigoríficos, a indústria de óleo vegetal e os produtores de insumos agrícolas, que têm forte presença na região. “Esses segmentos podem sofrer um impacto direto e imediato, principalmente pela quantidade de produtos já prontos para exportação e outros que estão parados em portos aguardando liberação”, alerta Olivette.
O conselheiro destaca ainda que o Oeste Paulista é um polo de exportação importante para o país, com destaque para setores como som automotivo, componentes eletrônicos e equipamentos agrícolas. Essas indústrias mantêm uma cadeia produtiva voltada ao mercado externo e já enfrentam dificuldades logísticas diante da incerteza atual.
“Estamos falando de contratos assinados, mercadorias prontas e clientes no exterior aguardando. O prejuízo não é apenas financeiro, mas também de imagem e confiança comercial”, afirma.
Diante do cenário, empresas da região estão sendo orientadas a buscar novos parceiros comerciais e rotas alternativas, ao menos até que haja um desfecho nas negociações e a situação volte à normalidade. “A recomendação do Ciesp é agir rapidamente para mitigar as perdas e garantir a continuidade das operações, mesmo que de forma parcial”, conclui o conselheiro.
Diplomacia como saída
A Amcham e outras entidades de comércio internacional defendem a abertura urgente de canais diplomáticos entre Brasil e Estados Unidos para evitar prejuízos econômicos. Segundo o relatório, uma solução negociada pode preservar empregos, contratos e o avanço tecnológico conquistado por exportadores da região.