O empresário e piloto Roberval Andrade, de 54 anos, natural de Santo Anastácio (SP) e integrante de uma família tradicional da cidade, foi preso nesta quarta-feira (25/6) pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Augusta. A ação, conduzida em parceria com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), investiga um amplo esquema de corrupção, vazamento de informações sigilosas e favorecimento ilegal em inquéritos criminais.
A operação é um desdobramento da Operação Tacitus, que apura a execução do delator Vinícius Gritzbach em 8 de novembro de 2024, no aeroporto de Guarulhos (SP). As investigações apontam para o envolvimento de policiais civis, empresários e advogados em um esquema de propina e tráfico de influência.
Natural de Santo Anastácio e campeão nas pistas
Roberval Andrade, nascido em Santo Anastácio, tem uma carreira de 25 temporadas no automobilismo e é um dos nomes mais conhecidos da Copa Truck. Ele foi bicampeão da extinta Fórmula Truck (2002 e 2010), campeão da Copa Truck (2018) e venceu o título de “Equipe Campeã” em 2022, pela AGS MotoSport, equipe oficial da Mercedes-Benz.
Conhecido na cidade natal por seu envolvimento com o esporte e por pertencer a uma família influente na região, a prisão de Roberval causou grande repercussão em Santo Anastácio. Reconhecido como figura pública local e herdeiro de uma família tradicional, a notícia gerou surpresa entre moradores e apoiadores do piloto.
Esquema investigado e propina milionária
Segundo o inquérito da PF, Roberval é suspeito de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Ele teria se beneficiado de um esquema que envolvia o vazamento de informações de investigações criminais em troca de pagamentos ilícitos.
Também foram presos os policiais civis Marcelo Marques de Souza, o “Bombom”, e Sérgio Ricardo Ribeiro, o “Serginho Denarc”. O grupo ainda contava com o advogado Anderson dos Santos Domingues, o “DR”, que é investigado por atuar como elo entre os envolvidos e por manipular processos criminais.
Em um dos episódios centrais da investigação, um helicóptero de Roberval — apreendido em abril de 2022 por suspeita de envolvimento com o transporte de drogas e dinheiro — teria sido o foco de uma tentativa de liberação mediante pagamento de R$ 1 milhão em propina. As mensagens obtidas pela PF mostram que Bombom e o advogado Anderson planejavam extorquir Roberval, com divisão dos valores entre os participantes do esquema.
Conversas interceptadas
Em áudios enviados por Bombom ao advogado, há trechos em que eles discutem abertamente sobre os valores:
“Doc, então era mais ou menos isso aí que a gente falou, 100 da comissão, 100 que o Flá devia e 57 seu. Isso daí é o que a gente tem que falar com ele.”
Em outro momento, Bombom cita o fim do ano como motivação para “catar o negocinho”:
“Vamos tentar catar uma parte boa disso aí… vamos catar nosso negocinho aí que tá chegando o fim do ano…”
Helicóptero suspeito
A aeronave de Roberval foi apreendida pela 6ª Delegacia de Investigações sobre Facções Criminosas e Lavagem de Dinheiro (DIFAC-LD), da Polícia Civil, com suspeitas de ser utilizada para transporte de dinheiro, entorpecentes e até membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
A defesa de Roberval Andrade ainda não se pronunciou. A PF informou que as investigações seguem em andamento e que novos desdobramentos podem ocorrer.