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13 de agosto de 2025
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Há nove anos partia ‘Pente Fino’, o homem da farda

No dia 28 de julho, há exatos nove anos, Presidente Prudente se despedia de uma das figuras mais singulares e queridas da cidade: Manoel Carlos da Silva, mais conhecido como “Pente Fino” ou simplesmente “o Homem da Farda”. Aos 90 anos, ele faleceu no Lar São Rafael, após uma batalha contra um câncer no pâncreas. Sua morte marcou o fim de uma era — e o início de uma saudade permanente.

Natural de Correntes, em Pernambuco, Manoel Carlos chegou ao interior paulista em tempos incertos, sem parentes conhecidos ou registros oficiais de sua chegada. Mas bastaram poucos anos nas ruas prudentinas para que ele se tornasse um ícone urbano, reconhecido por todos que circulavam pelo centro.

Um personagem que vestia história

Sempre vestido com fardas antigas, broches reluzentes e quepes militares, Pente Fino chamava atenção por onde passava. Caminhava com autoridade, como se tivesse acabado de sair de um quartel — mesmo que tudo fizesse parte de uma encenação pessoal. A cada esquina, assumia um papel diferente: fiscal de trânsito, oficial do Exército, sentinela da cidade. Tudo isso sem dizer que era, de fato, alguma dessas coisas — ele simplesmente era.

Seu nome verdadeiro era pouco conhecido, mas sua figura era inconfundível. Na Rua Tenente Nicolau Maffei, onde costumava passar seus dias, era visto quase como um guardião. Nunca causou transtornos, nunca pediu nada. Apenas existia — e, com isso, marcava todos ao redor.

Estacionamento da Prefeitura era seu refúgio

Durante a década de 1990, Pente Fino encontrou abrigo em um dos locais mais movimentados do centro: o estacionamento do prédio da Prefeitura de Presidente Prudente. À época,  o local servia como refúgio improvisado para ele, que chegou a passar noites por lá.

A familiaridade com o local era tamanha que funcionários lhe ofereceram um banco, onde ele se sentava, observando o movimento dos carros, cumprimentando transeuntes e contando histórias — reais, inventadas ou misturadas. Ali, ele se sentia em casa. O estacionamento não era apenas um abrigo físico, mas um ponto de observação — onde ele era protagonista e espectador ao mesmo tempo.

Era também ali que uma de suas poucas intolerâncias se manifestava: bastava alguém chamá-lo de “Moisés” — um apelido que odiava — para que ele perdesse a paciência. Era “Pente Fino”, e ponto final. Quando provocado com esse nome, corria atrás das pessoas, visivelmente irritado, o que divertia alguns, mas deixava claro que, apesar da aparência dócil, sabia se impor quando algo o desagradava.

Do estacionamento para o abrigo

A partir de 2008, com a saúde já debilitada, Manoel deixou as ruas e passou a residir no Lar São Rafael. Mesmo fora do ambiente que por tanto tempo ocupou, manteve seu espírito vibrante. Brincava com os colegas, conversava com os cuidadores e, sempre que podia, vestia suas medalhas com orgulho.

Sem laços familiares diretos na cidade, Manoel morreu em um dia 28 de julho, na época velado com o apoio de amigos e conhecidos, sendo sepultado no Cemitério Municipal Campal, com a presença daqueles que o reconheceram como parte da própria história da cidade.

Um legado sem sobrenome, mas cheio de identidade

Pente Fino não teve riquezas, títulos ou homenagens oficiais em vida — mas teve o que muitos buscam e poucos conseguem: o respeito espontâneo de uma comunidade inteira. Sua imagem, eternizada na memória coletiva, representa algo raro: a presença significativa do cidadão comum, que transforma o espaço público apenas sendo quem é.

Nove anos após sua partida, sua lembrança continua viva. Em cada rua onde ele marchou silenciosamente, em cada banco que ocupou, e em cada história que deixou no ar — mesmo que ninguém saiba ao certo onde começa a realidade e termina a imaginação.

Presidente Prudente se despediu de Manoel Carlos da Silva, mas jamais esquecerá o Homem da Farda. Porque, em tempos de pressa e anonimato, ele escolheu existir com propósito, mesmo que só ele soubesse qual.

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