A política, como o xadrez, se joga com estratégia, paciência e — vez ou outra — um movimento surpreendente que vira o tabuleiro de ponta-cabeça. E foi exatamente isso que aconteceu nos bastidores da política regional.
É de conhecimento geral que a candidatura de Tupã à Prefeitura de Prudente foi uma construção meticulosa, articulada com maestria por Guilherme Piai. Ele costurou alianças, alinhou interesses partidários e contou com o suporte direto de Gilberto Kassab, figura central no cenário político nacional, que chancelou o nome de Tupã. O PL, inclusive, foi colocado “no bolso”, como dizem nos corredores do poder, para compor a chapa e garantir musculatura política. Até então, tudo sob controle.
Porém, o que era visto como o próximo passo natural — a candidatura de Piai a deputado federal com o apoio de Kassab — acaba de sofrer um abalo sísmico. Gabriel Carapeba, também conhecido como Gabriel Lima, neto do respeitado ex-prefeito Agripino Lima, surge como pré-candidato ao mesmo cargo. E não é qualquer lançamento: Gabriel foi convidado pessoalmente por Kassab para representar o partido nas próximas eleições federais. Um gesto forte, simbólico e, acima de tudo, estratégico.
Aqui cabe a pergunta: o que motivou Kassab a trocar o certo pelo novo?
Porque é evidente que Piai vinha trabalhando silenciosamente, costurando alianças com nomes como Fábio Sato e Ed Thomas, justamente para fortalecer seu nome. A escolha de Kassab por Gabriel é, sem dúvida, uma ruptura — ou no mínimo um realinhamento tenso — da aliança que até aqui parecia inquebrantável.
Mais do que um nome novo, Gabriel representa uma aliança familiar de peso, com forte vínculo com a Unoeste e respaldo explícito do tio, César Lima, que, com sabedoria, reconheceu que seu tempo passou e que agora é o momento de apoiar a nova geração. Gabriel, médico respeitado, esteve por quase uma década à frente do Curso de Medicina da Unoeste — credenciais que lhe dão solidez administrativa e reconhecimento social.
Mas há uma consequência inevitável: o eleitorado que Gabriel busca é o mesmo que Piai vinha cultivando. São vasos comunicantes. Um cresce, o outro esvazia. E nesse cenário, surge a dúvida que paira como uma nuvem pesada: teria Piai sido traído politicamente por Kassab?
Mais ainda: qual será a postura do prefeito Tupã?
Sabemos da relação próxima entre ele e a família Lima, especialmente com César, que certamente pedirá apoio à pré-candidatura do sobrinho. Se Tupã ceder, como resistirá Piai? Se não ceder, como manterá sua base coesa? O dilema está posto.
O jogo político local ganhou novos contornos. O que parecia um caminho claro para 2026 agora está repleto de bifurcações, disputas internas e interesses cruzados. A movimentação de Kassab é ousada, mas não gratuita: ele aposta em um nome leve, técnico, jovem e com base familiar forte.
Se essa jogada será um xeque-mate ou um tiro no pé, só o tempo dirá.
Por ora, o que se sabe é o seguinte: ninguém mais pode dormir tranquilo nesse tabuleiro.